quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Jornal dos Emirados expõe rachadaduras na fachada do Brasil



Você tem a impressão (ou certeza) que as coisas no Brasil não avançaram tanto quanto alguns nos querem fazer crer?


No começo de fevereiro li um artigo que me deixou decepcionada e muito triste. Publicado no jornal The National (dos Emirados Árabes Unidos), a matéria, cujo título é “Rachadura na Impressionante Fachada do Brasil”, relatava como o país com a sexta maior economia do mundo e sede da Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016 possui uma péssima infra-estrutura. Não somente com as obras para os eventos que ela irá sediar, mas também nas simples construções como as moradias populares.

Além de constatar que as obras para os próximos eventos esportivos estão atrasadas, o artigo foca na péssima qualidade das construções que o governo brasileiro está fazendo para alojar sua população menos privilegiada.

Com bem diz a matéria, “de longe, o alinhamento de casas parece um perfeito exemplo do que a maior nação da América do Sul deveria estar fazendo para resolver o crônico problema da falta de moradia, mas quanto mais perto você chega, mais dolorosamente a verdade é deflagrada. Do lado de fora, ruas de terra e telhados com telhas faltando. Do lado de dentro, sistema elétrico que não funciona e paredes já rachadas”.

A minha decepção e tristeza se explica por ver que o país não avançou muito em termos de infra-estrutura para os mais simples. Na década de 90, minha mãe entrou no sorteio do programa de casa própria para a população carente. Só para vocês entenderem como o sistema funciona, podia participar do sorteio somente quem pudesse comprovar que recebia entre dois e cinco salários mínimos por mês de renda familiar. O salário dela com o do meu irmão, ainda solteiro, foi suficiente para que ela pudesse então se inscrever para o tal sorteio e para sua maior alegria ter sido contemplada com uma casa, pagando o valor da moradia durante 25 anos.*

Até aí, que maravilha, era o Brasil ajudando sua população simples. Mas nos dias de chuva, as ruas do longínquo bairro onde as casas foram construídas eram um lamaçal só. Na casa geminada de três cômodos, a impressão era que chovia mais dentro do que do lado de fora. O pequeno terreno virava um lago quando chovia, pois as casas foram construídas abaixo do nível da rua. Problema resolvido somente quando ela própria aterrou o terreno e elevou o nível do solo da casa.

Infelizmente o que o repórter do The National constatou é que essa realidade ainda não mudou mesmo depois de mais de 17 anos.

Minha Casa, minha vida do governo federal pretende construir 3 milhões de casas de baixo custo e até o momento já entregou 700 mil.
Segundo Raquel Rolnik, uma arquiteta que estuda a questão da moradia no Brasil, em termos de construção e design, a lógica é “faça o mais barato possível, pois eles pensam que se é para a população pobre não precisa ser decente. As conseqüências para as pessoas que moram lá são terríveis”, diz Rolnik.
A arquiteta explica que outro problema desse tipo de programa é que freqüentemente adota-se o mesmo tamanho e estrutura para todo o país independentemente do terreno, localização ou clima, pois tudo deve ser feito com baixo custo e rapidamente.

O jornal entrevistou também moradores de um complexo que foi entregue recentemente, que confirmam que com a chuva as casas ficam inundadas. “As paredes já estão rachadas e muitas casas tinham telhas quebradas e a eletricidade não funcionava”, descreve o jornalista.

É interessante ver um jornal do outro lado do mundo relatando um problema vivenciado por minha própria família há mais de 17 anos.









*Ela ainda mora no mesmo local. Depois de muitos anos e inúmeras reformas a casa finalmente ficou decente.

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