quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Escravos no Paraíso

Você achava que escravidão era coisa do passado? Ou somente de países subdesenvolvidos?

Nesta semana cheguei em casa por volta das 22h30 e vi o salva-vidas da piscina do prédio onde moro esperando o ônibus da empresa para levá-lo para o seu dormitório que fica numa cidade vizinha a Dubai (cerca de 1h de carro).

Como eu sei que ele começa às 7 da manhã, no dia seguinte perguntei a ele até que horas ele trabalha. Para minha surpresa, ele disse que das 7h às 21h direto, com um dia de folga por mês e com direito a férias a cada dois anos.

Pesquisei na internet quanto ganha um salva-vidas nos Emirados e encontrei um anúncio para o Hotel Hilton oferecendo o equivalente a R$ 550,00 por mês para o trabalho de vigia de piscina.

Digo vigia de piscina, pois segundo um artigo num jornal local a maioria das pessoas trabalhando como salva-vidas nesta parte do mundo não sabe nem como nadar, que dirá primeiros- socorros. Mas de qualquer forma este não é o assunto deste texto.

Na reportagem “Rachaduras no Paraíso” da Revista Piauí Nº 33, junho de 2009, assinada por Johann Hari, um jornalista inglês que escreve para o Independent, ele revela que apesar do “sucesso” de Dubai, existem centenas de milhares de trabalhadores estrangeiros em regime de semi-escravidão. Veja http://johannhari.com/2009/06/23/as-rachaduras-no-para-so-de-dubai/

Nesta parte do mundo, greves ou sindicatos trabalhistas são proibidos. Após muitos abusos serem apresentados pela mídia, o governo vem tentando melhorar a condição dos trabalhadores. Como a lei que proibe as empresas de construção a trabalharem das 12h às 16h no verão ou quando a temperatura atinge os 50ºC. O que é impressionante é ver que desde que essa lei foi implementada, os termômetros oficiais nunca ultrapassam os 48ºC e uma rápida passada pela cidade nessa hora do dia revela descaradamente aqueles que não respeitam a lei.

Como as temperaturas no Oriente Médio no verão chegam a 50ºC com humidade relativa do ar por volta dos 90%, somente o fato de sair do carro para entrar no shopping já nos faz suar. Na semana passada saindo do supermercado demorei uns três minutos para colocar minhas compras no carro e já não aguentava de calor, transpirava como se estivesse numa sauna/banho turco.

Ontem, dia 9 de agosto, às 14h, parei para pedir informação num prédio e o segurança que fica do lado de fora para direcionar os carros (nem todos os prédios tem esse tipo de serviço) estava encharcado de suor, parecia que ele havia acabado de sair do chuveiro e não tinha se enxugado, as gotas de suor caiam do rosto cansado do rapaz. Esta é época do Ramadan, portanto beber ou comer em público é proibido. Assunto para um próximo texto.

Voltando ao salva-vidas que trabalha no meu prédio. Ele me disse “no complaints”, mesmo ficando14 horas por dia no calor, chegando no dormitório às 23h30 e levantando às 4h30, pois no seu país, Nepal, não há empregos. “Neste prédio, pelo menos estou próximo da sala de ginástica com ar condicionado, o que me permite dar umas fugidinhas para refrescar”, completou o rapaz.



Interessado em saber mais? Veja os vídeos
http://www.menassat.com/?q=en/news-articles/3877-sleeping-giant-foreign-workers-dubai
www.youtube.com/watch?v=BOdXRc-o72M






4 comentários:

Karina Lapido disse...

Oi Marli, um país que não respeita a dignidade humana não pode ser chamado de desenvolvido. Pode estar bem hoje, mas jamais será um país sustentável pois não respeita aqueles que são e serão a base do seu crescimento. Parabéns pelo texto.

ALEXANDRE WAGNER MALOSTI disse...

Marli, parabéns pelo texto.. Infelizmente essas práticas são mais comuns do que pensamos... algumas veladas.... bom pensarmos que existem outros tipos de "escravidão" mais sutis praticadas por empresas, instituições, governos.... Mas se não conseguimos evoluir e acabar com a escravidão primária, estamos longe de perceber e acabar com os outros atos de escravidão... as mais sútis... Beijos e parabéns...

Anônimo disse...

Cara Marli, parabéns pelo texto
sou novo por aqui, fui convidado pela Luciana.
Já sabia algum tempo desse tipo de trabalho forçado, como na Indonésia uma famosa Empresa Esportiva usa trabalho escravo infantil pra fazer bolas de futebol.Fico pensando na Era da Revolução Tecnológica vivemos momo medievais para alguns, oljhamos para DUBAI e agora como não foi na sua construção.
PARABÉNS .
JHD

Marli disse...

Muito obrigada!
Um país que se constrói com abuso humano não tem como ser sustentável.
A Bíblia em Jeremias 22:3 diz: "Administrem a justiça e o direito: livrem o explorado das mãos do opressor. Não oprimam nem maltratem o estrangeiro, o órfão ou a viúva..."

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