sábado, 3 de março de 2012




Banheiro a céu aberto

Com quantas pessoas você divide seu banheiro? Qual é mais privado pra você, um quarto ou um banheiro?
Deixe sua resposta num comentário no final deste texto.

Banheiro é um assunto que me interessa. Já escrevi sobre defecar neste mesmo blog.


Quando eu era criança, sempre disse que quando eu tivesse minha própria casa, teria um banheiro só pra mim. Acho que ter um banheiro exclusivo é tão importante quanto ter um quarto, mas confesso que acho o banheiro um local ainda mais privativo que o quarto. Vocês podem estar pensando, “que exagero, claro que banheiro pode ser usado por mais de uma pessoa. Isso é luxo demais!”


Realmente é luxo, ainda mais quando vejo que para a população indiana, 58% das pessoas não possuem banheiro em casa. Numa favela indiana cada vaso sanitário, mais especificamente, é usado por mais de 200 pessoas. Um absurdo para um país onde a maioria da população possui um telefone celular, mas não tem acesso a um vaso sanitário, que dirá um banheiro com chuveiro.


Quem já foi à Índia deve saber do que estou descrevendo. As pessoas usam qualquer lugar como banheiro, porque simplesmente não há toaletes suficientes para toda a população. Cerca de 1.2 bilhões de pessoas defecam ao ar livre, segundo um estudo da Unicef e da Organização Mundial da Saúde. Para quem quiser ler mais sobre o assunto: www.who.int/entity/health_financing/documents/dp_e_09_06-medisave_karnataka.pdf


Infelizmente, a Índia está no topo da lista dos países com crônico déficit em banheiros. Logo após, vem a China, onde 5% da população não possui acesso a vaso sanitário. Em terceiro lugar, Paquistão e Etiópia, com 4.5%. O Brasil está um pouco atrás com 2.2%, Estados Unidos, com 1.3% e Chile, com 0.5%.


A diferença em números é enorme entre o primeiro lugar e o resto. A explicação dada por Aidan Cronin, responsável da Unicef pela questão sanitária na Índia, é a falta de incentivo do governo e também do estigma cultural-religioso.


Faz somente 20 anos que o governo indiano começou a incentivar o uso de banheiros em vez do “ar livre latrina”, por questões de saúde pública.


Outra razão é que normalmente banheiros na Índia devem ser limpos somente pelos Dalits (intocáveis), a casta mais baixa da sociedade. Portanto, as pessoas preferem não ter um banheiro do que ao limpá-lo serem associadas com os Dalits.


Jairam Ramesh, Ministro do deselvolvimento rural da Índia, explica que mulheres preferem ter um telefone celular a um banheiro. Como se pudéssemos comparar o benefício de um contra o outro, penso eu. Isso me lembra da velha frase, não sei se caso ou compro uma bicicleta. Nada a ver, para alguém que não conhece a cultura indiana.


Outra explicação interessante é do co-fundador da Guardian, uma empresa de micro-finanças em Tamil Nadu (região sul da Índia). Ele comenta que quando sua empresa oferece para emprestar dinheiro para alguém construir um banheiro, a resposta é “no need” (não é necessário). “Eles não querem nem discutir a possibilidade, pois acham que isso é “dirty business” (negócio sujo).”


Esse problema não é de ordem pessoal, mas pública, pois os “defecadores” ao ar livre, não escolhem local para usar como banheiro e a contaminação de rios, nascentes e lençol freático é imensurável. (Argh, acho que não vou mais comer nenhum legume vindo da Índia. Infelizmente compro mandioca cultivada lá.) Cerca de mil crianças menores de cinco anos morrem diariamente naquele país por contaminação.


Voltando a questão do banheiro só pra mim. Felizmente, tenho um enorme, aliás na minha casa há cinco banheiros, quatro dos quais com chuveiro também. Realmente é um luxo, mas amo receber visitas e dar-lhes também esse tipo de conforto. Ainda bem que não tenho nenhum problema em limpar banheiro e ser considerada um Dalit.

4 comentários:

Lucimara Fernandes disse...

Marli!!
Fiquei impressionada com esta informação!! Que horror!
Sempre que vejo andarilhos pelas ruas é nisso que eu penso... Como as pessoas se acostumam a viver sem tomar banho e ter privacidade e higiene para as suas necessidades fisiológicas?
Concordo plenamente com você quanto a ter um banheiro privativo! Pois o quarto, dividimos tranquilamente com uma irmã ou com o marido, já as necessidades fisiológicas não fazemos à frente deles. Isso não tem nada a ver com ter intimidade, mas com o mínimo de privacidade!
Infelizmente, ainda não tenho um banheiro exclusivo...
Adorei o post! Parabéns!
Beijos

Adriana Z. Pires disse...

Marli,

Muito interessante seu posicionamento, pois abordou o assunto com total imparcialidade.
É difícel entender uma situação dessa, quando nascemos no país dos Indios, que ensinaram aos portugueses a tomar banho diariamente e tudo mais.
É triste ver que alguns costumes são difíceis de modificar em alguns povos.

Betinha disse...

Oi Marli,

Como sempre seus textos são deliciosos de ler sem falar na originalidade de temas que valem a pena qualquer pausa. Parabéns!

Bom, penso como você e ter um banheiro exclusivo não deveria ser considerado um luxo e sim um direito ao que lhe é mais pessoal. Graças a Deus divido a minha vida com um marido que pensa o mesmo e que respeita a sutil diferença entre privacidade e intimidade. Neste campo mantemos portas fechadas sempre para termos o coração aberto, cheiroso e gostoso.

Beijos!

Marli disse...

Obrigada a todas! Vcs são gentis, infelizmente minha gramática portuguesa tem se deteriorado por falta de prática.
Abs,
Marli

Como publicar um comentário

- Clique em comentários (no final de cada matéria);
- Após escrever seu comentário, digite a palavra em código “Prove que você não é um robô";
- No campo "Escolher uma identidade", se você não possui conta Google, clique na opção NOME/URL e digite seu nome no campo "Nome" (não é necessário digitar no campo URL);
- Caso não queira se identificar, escolha a opção "Anônimo";
- Daí é só cliclar "Publicar comentário".
- Obrigada!