quinta-feira, 5 de julho de 2012

Países do futuro

Será realmente que Brasil, Rússia, Índia e China serão os países do futuro?

A idéia do BRIC, sigla promulgada por Jim O’Neill da Goldman Sachs (um dos maiores bancos de investimento do mundo), não tem sido unânime. A tese de que Brasil, Rússia, Índia e China serão os próximos líderes econômicos mundiais já vem recebendo críticas de outros especialistas em economia, que dizem que os países do Bric já mostram que não conseguem manter o nível de crescimento que apresentaram nos últimos anos.
Na contra corrente do pensamento de Jim O’Neill está Ruchir Sharma, um gerente de investimentos do banco americano Morgan Stanley, que diz que os melhores dias do Bric já passaram e que cada um desses países tem específicos problemas econômicos, políticos e sociais que influenciarão de maneira negativa o futuro de cada um deles. E que atualmente outros países, principalmente na Ásia, oferecem melhores perspectivas para investimentos. Ele deixa entender que a tese do BRIC é uma campanha de marketing, pois há outros países, especialmente na Ásia que oferecem melhores formas de investimentos.
Sobre a China, considerada o país que terá a maior economia no futuro, Sharma prediz que logo ela vai começar a desacelerar e que com essa queda muitos países que  agora navegam em sua correnteza iram cair também. Nas últimas duas décadas, a China apresentou dois dígitos, mas atualmente não consegue ultrapassar a casa dos 6% ou 7% de crescimentos do PIB.
Ruchir Sharma é um indiano que não acredita no potencial de seu próprio país. “A elite na Índia está mais preocupada em como gastar do que trabalhar de maneira a consolidar o rápido crescimento do país.”
A Índia, segundo ele, promete altos níveis de crescimento, mas até agora não conseguiu apresentá-los. Os problemas sócio-demográficos, culturais e políticos são também uma barreira.
Sobre Rússia e Brasil, ele explica que ambos os países são vulneráveis, pois dependem demais de específicos produtos como petróleo e algumas matérias-primas, e que isso é a receita perfeita para uma bolha econômica estourar.
Sharma é crítico do sistema econômico e político da Rússia e no caso do Brasil, da grande despesa da máquina estatal, o que resulta em grandes taxas de juros e uma moeda fraca, além dois dos países serem um dos mais caros do mundo, na comparação de preços de hotéis em diferentes regiões do planeta.
Ele explica que o crescimento acelerado de alguns países é insustentável, pois somente um pequeno número consegue manter um crescimento alto no longo termo. Desde 1950 somente seis países (Malásia, Tailândia, Cingapura, Coréia do Sul e Taiwan) mantiveram uma média de crescimento de 5% por quatro décadas. Já Taiwan e Coréia do Sul foram os únicos que conseguiram manter um bom crescimento nos últimos cinqüenta anos. Portanto, segundo sua linha de pensamento e análise, Taiwan e Coréia do Sul têm potencial para serem os países do futuro.
“Ambos são empresariais, organizados, eficientes e trabalham duro, focalizados na manufatura de diferentes bens e exportação. Eles também foram colônias japonesas e aprenderam com o sucesso e erros dos colonialistas.”

Seul moderna e tradicional

Dos dois países, Sharma ainda prefere a Coréia do Sul, considerando que ela poderá se reunificar com a Coréia do Norte pacificamente e tornar-se a “Alemanha da Ásia”, “claro que evitando os erros financeiros dos alemães na década de 90”.
A Coréia do Sul conseguiu um dramático crescimento não só econômico mas também político e social. Durante os últimos 50 anos a renda per capita do país cresceu de US$82 em 1960 a US$22 mil em 2011.
Visão in loco
Conheço ambos os países, passei dois meses em Taiwan (Kaohsiung, Taipei e Taichung). Um país entre a China e Hong Kong, quer dizer, com raízes chinesas mas com visões democráticas e progressistas. Taiwan passou de um país de manufatura de brinquedos à manufatura de componentes eletrônicos de ponta em somente duas décadas.
Rio no centro de Seul
O desenvolvimento da Coréia do Sul é surpreendente, passando de um país extremamente pobre na década de 60 à uma economia que se consolida cada vez mais.
Minha experiência na Coréia foi de quatro meses em (Incheon, Seul, Pusan, Mokpo e Pohang). Pelas minhas observações, a Coréia do Sul lembra o Japão, claro que um Japão ainda não tão desenvolvido, mas em vias de se tornar. Povo estudioso e que trabalha duro, além de oferecer uma educação entre as melhores do mundo. No Brasil sempre ouvimos falar como os japoneses se dedicam ao estudo, mas posso dizer que vi o mesmo na Coréia. Como seu país vizinho, ela também preza pelo respeito às tradições e seu índice de corrupção comparada com os países do BRIC é muito menor. Sua posição na lista de transparência em negócios do governo é 43* (numa lista de 182 países, onde Brasil é 73*, a China 75*, Índia 95* e Rússia 143*). Ou seja, bons ingredientes para uma excelente receita, que o tempo dirá se continuará a dar certo. Talvez nossos governantes pudessem humildemente tomar algumas aulas com a Coréia do Sul e Taiwan. Outra idéia seria aprender com a experiência de Cingapura. (Talvez escreva outro texto sobre esta pequena nação que já foi chamada de “nação abortada” e que agora é um incomparável núcleo de negócios apesar de seu tamanho e falta de recursos naturais).
*Corruption Perceptions Index (CPI)

3 comentários:

Adri Z. Pires disse...

Marli, você vive me surpreendendo e dessa vez não foi diferente.
Com a minha pouca experiência internacional, mas sempre critica e observadora acredito que os paises da Ásia que foram citados no texto tem mais condições em manter uma economia estável do que os ditos:"Paises em desenvolvimento". Basta sabermos de que desenvolvimento se está falando?
Beijos e continue assim amiga!

Marli disse...

Oi Adri, obrigada!
Acabei de ler uma matéria no Financial Times sobre a desaceleração do crescimento do Brasil. A matéria explica que um dos problemas é a falta de investimento em infraestrutura e educação.
O Corinthians contratou um jogado chinês Chen Zhizhao, mas ele mesmo diz que "As pessoas na China não estão interessadas em futebol, pois a crianças estudam demais."
A matéria diz que a América do Sul não será nenhuma Ásia no futuro próximo.

Unknown disse...

Grande esclarecimento. ainda não havia atentado pra isto. também pensava como a maioria das pessoa que imaginam serem os Brics os países que liderarão a economia deste século. Obrigado pelo esclarecimento.

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